A Inteligência Artificial sob a Lente do Nobel de Economia 2025
A pesquisa de Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, laureados com o Prêmio Nobel de Economia de 2025, oferece um arcabouço teórico poderoso para analisar a atual revolução da inteligência artificial (IA). Suas teorias sobre a cultura do crescimento e a destruição criativa não apenas contextualizam as transformações em curso, mas também fornecem um guia para navegar seus desafios e maximizar seus benefícios.
10/15/20254 min read


A IA e a "Cultura do Crescimento" de Mokyr
A teoria de Joel Mokyr sobre a interação entre conhecimento proposicional (o "porquê") e conhecimento prescritivo (o "como") é particularmente ressonante na era da IA. A IA generativa, em sua essência, representa uma aceleração sem precedentes desse ciclo de feedback.
•Automação da Inovação: A IA está começando a automatizar não apenas tarefas de produção, mas também tarefas de P&D. Ela pode analisar vastos conjuntos de dados, identificar padrões e gerar hipóteses, acelerando o desenvolvimento do "conhecimento proposicional". Ao mesmo tempo, pode traduzir essas descobertas em aplicações práticas (conhecimento prescritivo) com mais eficiência.
•Democratização do Conhecimento: Ferramentas de IA podem tornar o conhecimento técnico e científico mais acessível a um público mais amplo, capacitando mais pessoas a inovar. Isso ecoa a ênfase de Mokyr na importância de uma ampla base de artesãos e engenheiros qualificados durante a Revolução Industrial.
No entanto, a perspectiva de Mokyr também serve como um alerta. O progresso não é garantido e depende de uma "cultura do crescimento" que seja aberta a novas ideias e resistente ao bloqueio por parte de interesses estabelecidos. A resistência à IA, seja por medo de perda de empregos ou por preocupações com a concentração de poder, pode se tornar uma barreira significativa ao crescimento, assim como os luditas e as guildas tentaram frear inovações no passado.
A IA como Motor da Destruição Criativa de Aghion e Howitt
O modelo de destruição criativa de Aghion e Howitt é o prisma perfeito para entender a dinâmica econômica da IA. A IA é uma tecnologia de propósito geral que está desencadeando uma onda massiva de destruição criativa em praticamente todos os setores da economia.
Inovação e Monopólio Temporário: Empresas que desenvolvem ou adotam IA de ponta ganham vantagens competitivas significativas, obtendo lucros de monopólio temporários. Isso cria um forte incentivo para o investimento em P&D em IA.
Destruição Criativa: A IA torna obsoletos modelos de negócios, processos e até mesmo profissões inteiras. Empresas que não se adaptam são deslocadas por concorrentes mais inovadores.
Efeitos no Emprego: Estudos recentes, incluindo de Aghion, sugerem que o "efeito de produtividade" da IA (que leva à expansão das empresas e criação de novos empregos) pode superar o "efeito de deslocamento". O maior risco para os trabalhadores não é ser substituído pela IA, mas por outros trabalhadores em empresas que usam IA.
Em um artigo recente, Aghion e seus coautores estimam que a IA pode aumentar o crescimento da produtividade em 0,8 a 1,3 pontos percentuais anualmente na próxima década. Eles argumentam que, com as políticas corretas, a tecnologia tem um imenso potencial para impulsionar tanto o crescimento quanto o emprego. [1]
Desafios e Implicações de Política na Era da IA
A aplicação das teorias dos laureados à IA também ilumina os principais desafios que precisam ser enfrentados. O próprio Aghion identificou três riscos principais que poderiam frear o ciclo de crescimento virtuoso da IA:
1.Concentração de Poder: Os recursos para desenvolver IA de ponta (dados, poder computacional, talento) estão concentrados em poucas gigantes de tecnologia. Essa concentração pode sufocar a concorrência e a inovação, transformando a destruição criativa em um poder entrincheirado. A história, como o caso da ARPANET que deu origem à internet, mostra a importância do investimento público para garantir que a inovação sirva a interesses mais amplos. [2]
2.Mercados Fechados: O protecionismo e as barreiras comerciais podem proteger empresas incumbentes da concorrência, mas, ao fazer isso, minam o processo de destruição criativa e retardam a inovação e o crescimento a longo prazo.
3.Sustentabilidade: O enorme consumo de energia e água pelos modelos de IA representa um desafio significativo. O crescimento impulsionado pela IA deve ser alinhado com as metas de sustentabilidade para ser verdadeiramente duradouro.
Além disso, a velocidade da transformação da IA exige uma resposta política ágil e proativa. Como aponta o economista James Robinson (Nobel de 2024), a ausência de uma regulação global e de um esforço consciente para desenvolver uma "IA amigável ao trabalhador" pode exacerbar as desigualdades e causar instabilidade social. [3]
Governando a Próxima Onda de Inovação
A pesquisa dos laureados do Nobel de 2025 nos ensina que a revolução da IA não é um destino a ser temido, mas um processo a ser governado. Para aproveitar seu potencial de crescimento, as sociedades precisam:
•Fomentar uma Cultura de Crescimento: Investir em educação, ciência e um ambiente que abrace a inovação e a mudança.
•Garantir a Competição: Usar políticas de concorrência para evitar a concentração de poder e garantir que novos inovadores possam desafiar os incumbentes.
•Gerenciar a Destruição Criativa: Implementar políticas ativas de mercado de trabalho, programas de requalificação e redes de segurança social para apoiar os trabalhadores deslocados pela automação.
•Cooperar Globalmente: Desenvolver padrões e regulações internacionais para lidar com os desafios transfronteiriços da IA, desde a segurança até a desigualdade.
Em suma, a lição do Nobel de 2025 para a era da IA é que o progresso tecnológico, por si só, não garante a prosperidade. Ele deve ser acompanhado por instituições, políticas e uma cultura que canalizem seu poder disruptivo para um crescimento sustentável e amplamente compartilhado.
Referências
[1] Aghion, P., Bunel, S., & Jaravel, X. (2025, 14 de janeiro). What AI Means for Growth and Jobs. Project Syndicate. https://www.project-syndicate.org/commentary/ai-will-boost-productivity-growth-without-harming-jobs-employment-by-philippe-aghion-et-al-2025-01
[2] Carvão, P. (2025, 13 de outubro). Nobel Prize 2025 Highlights Innovation, Creative Destruction in AI Era. Forbes. https://www.forbes.com/sites/paulocarvao/2025/10/13/what-this-years-nobel-prize-teaches-about-innovation-and-ai-risk/
[3] Redação Bloomberg Línea. (2025, 6 de fevereiro). Sem regulação global, IA causará destruição criativa, diz Nobel de Economia. Bloomberg Línea. https://www.bloomberglinea.com.br/tech/sem-regulacao-global-ia-causara-destruicao-criativa-diz-nobel-de-economia/


